Chega a uma altura do dia que só queremos mantermo-nos vivos.
O que fazer a uma criatura que dorme aninhada a múltiplos livros e quando muda para outra cama, durante a noite, faz questão de os levar consigo, de uma só vez.
Ouvem-se tiros que caem no chão. Es-pa-ça-da-men-te. E suspendem o silêncio ensurdecedor da noite só para nos acordar em sobressalto. O primeiro pensamento é que terá iniciado um tiroteio no bairro mais próximo.
Essa criança apaixonada por livros, não dorme sem que se conte uma história. História essa que tem que ser contada sempre da mesma forma e sem uma vírgula a mais. Por circunstâncias da vida, não era assídua na hora de deitar, mas entrava como suplente em algumas noites. Aquilo que seria um momento de união e partilha de amor tornava-se numa longa e quase eterna hora de “…tu não sabes…” e “…não é assim…” Uma pessoa pensa em tudo, disse-lhe que não sabia ler, que via mal, que me doía a barriga, mas era inevitável… O objetivo de vida de uma criança é mesmo repreender um adulto. Mas eu não era uma adulta qualquer, estava pronta para fazer frente ao pequeno ser ditador que coabitava connosco. Comprei livros bem atraentes numa loja de artigos em segunda mão e magia aconteceu. Novos estímulos, novas regras!